Israel Belo de Azevedo
Um
casal cuidava do seu filho com afeto e responsabilidade, mas, tal como o
rapaz da parábola de Jesus, ele resolveu partir sem deixar um beijo de
despedida, convicto da superioridade da sua escolha. Um casal que não
errou pode até chorar, mas nunca se culpar.
Uma
mulher amava o seu marido com intensidade e qualidade, mas, num final
de tarde, depois de alguns ensaios, ele seguiu para os braços da outra.
Uma mulher que não falhou pode até sem afundar em lágrimas, mas sem se
culpar.
Uma
escola tratava seus alunos como filhos, cuidando deles com devoção,
cumprindo todos os requisitos, mas um menino se afogou na piscina sem
que a professora e o guardião em pé diante da água percebessem em tempo.
Uma escola que não foi relapsa pode lamentar a perda junto com as
famílias do menino, mas jamais se culpar.
Um
marido dedicou todo o seu tempo, desdobrando-se, multiplicando-se, para
mitigar as dores da sua esposa, cujo corpo foi dilacerado por um câncer
vil, até que um dia teve que sepultá-la. Um marido que não desistiu,
antes fez tudo o que podia, certamente vai chorar, mas nunca deverá se
culpar.
Um
motorista, que dirigia segundo os limites das leis de trânsito e que se
aplicava em atenção à rua, atropelou mortalmente uma criança da idade do
seu filho. O motorista que não pecou vai chorar por toda a sua vida,
mas não tem razão para se culpar.
Um
tio, por amor, deu aos seus sobrinhos um brinquedo bonito, bonito e
testado como seguro, mas o objeto, em lugar de trazer o brilho da vida,
serviu para empurrar um deles para as trevas da morte. Um tio que sempre
amou sentirá um vazio pelo resto de sua existência, mas não pode se
culpar.
Por razões que nossos corações desconhecem, assumimos culpas que não nos cabem.
A
culpa nasce da convicção de que podemos explicar as coisas tristes das
quais participamos. Podemos explicar quase todas, mas não todas as
coisas. Como não conseguimos explicar, assumimos como explicação uma
culpa que não temos.
A
culpa nasce de uma mentira, segundo a qual poderíamos ter feito
diferente ou deveríamos estar onde não estávamos, para evitar o que o
ocorreu. Não somos onipotentes e, em muitos casos, nem a nossa presença
evitaria a tragédia que nos deprime.
A
culpa nasce do esquecimento da fragilidade humana. Num piscar de olhos,
sem nenhuma contribuição nossa, a vida escorrega, o corpo tomba, o
sangue se esvai, a escuridão desce, a esperança vira passado, a dor
sufoca.
Nestas
horas, depois de termos feito a revisão que nos cabe e concluído que
nossas mãos estão mesmo limpas, devemos pedir a Deus que nos conforte e
console as outras pessoas devastadas, rogando que a bondade dele nos
inspire a continuar fazendo, sem desanimar, as coisas certas, certos de
que o justo Juiz divino carinhosamente já nos absolveu da culpa que
sentimos, sem que a tenhamos. Nessas horas também, podemos correr para
os braços do Pai eterno que nos acolhem.
Desejo-lhe um BOM DIA.
Israel Belo de Azevedo
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